quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PREGUIÇA PATOLÓGICA - PREGUIÇA PSÍQUICA



Walkiria Assunção
Segundo G. P. da Silva, a preguiça, na criança, e sempre anormal. A tal ponto esta asserção é verdadeira que Robin, fino paicológo, diz textualmente:" Quando me dizem: - aqui tem o senhor um pequeno preguiçoso, começo a olhar severamente os pais, o mestre e o médico. Depois, o legislador". E conclui:"É raro que o menino não tenha razões para ser preguiçoso".
Dentro da anormalidade, propriamente dita, com a qual devemos encarar a preguiça infantil, destaca-se inúmeros fatores de ordem fisiológica. Ja aqui - e claro - 0 estado preguiçoso não pode ser olhado como um simples defeito educacional, porque independe das melhores regras da Pedagogia. Torna-se por isso necessário, imprescindível mesmo, que, antes de qualquer conceito emitido em relação à preguiça, possamos distinguir a "preguiça patológica" da preguiça psíquica' digamos assim.
A primeira surge de um embaraço orgânico. A segunda de um traumatismo na alma infantil. Vimos que a última é consequência da incompreensão entre as exigências do adulto e a obediência, apenas aparente, da criança. A primeira ja então se nos apresenta como oriunda de uma pertubação de ordem fisiológica.
Assim, por exemplo, nem sempre um menino que não sabe a lição deve ser considerado vadio ou preguiçoso. Ao ler ele um trecho, pode acrescentar ao mesmo palavras imaginárias, pode articular um vocábulo por outro, ou ainda gaguejar, tropeçar nas frases. Esse garoto precisará, não raras vezes, de um exame da visão. Outros são os casos em que o aluno não percebe, como os demais, a preleção do professor. Se está fazendo um ditado, erra constantemente. Troca uma palavra por outra. Omite uma frase e, as vezes, até mesmo um período inteiro. É o aparelho acústico que está a pedir remédio.
O estado patológico da preguiça tem, por outro lado, uma causa comum, mas também quase esquecida dos pais e educadores. É a preguiça de origem parasitária. Os vermes intestinais provocam indolência e consequentemente a preguiça. Nem sempre esses parasitas do intestino são suficientes para caracterizar o quadro clássico das verminoses. Passam, quantas vezes, despercebidos ao pr´prio hospedeiro e aos próprios olhos dos médicos, manifestando-se apenas por um ou outro sintoma isolado. Mais comum do que em geral se pensa, a verminose é responsável por inúmeros distúrbios, a ponto de ser confundida com sérias enfermidades.
A visão pode, por exemplo, tornar-se comprometida, simulando afecções do globo ocular, quando, em essencia, resulta desse importunos vermes do intestino. Môscas volantes, nuvens que passam diante dos olhos, tonteiras, ameaças de vertigens, são sintomas comuns nas crianças atingidas pela verminose. Esta passa desse modo a ser, frequentemente, uma terrível inimiga da atividade infantil, provocando a indolência, o mal estar, numa palavra, a preguiça.
Ao lado da verminose, mencionaremos ainda as pertubações gastrintestinais(que podem ser consequência de vermes), as insuficiência glandulares e uma outra forma mais grave de afecção orgânica que, geralmente, deixa a criança em permanente atitude paralisada, além de fria ou imóvel, como as estátuas. Etas afecção, graves, alias, é a epilepsia.
Vemos, pelo exposto, que a preguiça não é apenas esse vício tão apregoado, tão feio, tão deprimente, tão marcadamente criticado por todos aqueles que o julgam dependente da vontade. Não se é preguiçoso porque se queira ser preguiçoso. Há de existir sempre uma causa, um motivo(ou muitos motivos e muitas causas( de preguiça. Esta é sempre anormal e por isso precisa ser sempre pesquisada, verificada, tratada.
Diante de um aluno preguiçoso, cabe ao professor onservá-lo atentamente. A má interpretação dos testes, por exemplo, pode acarretar a preguiça do aluno, quando ele é mal analisado. Um educando que deveria estar numa classe mais adiantada, é preguiçoso na classe atrasada.
Ganhamos assim formas parciais de preguiça, ocasionadas por certas inabilidades pedagógicas. Um menino que estuda mal a lição, mas que é forçado a sentar-se nas últimas filas de cadeiras da sala de aula, pode ser - primeiramente - um excelente estudioso, mas insensivelmente viciada a sua atitude, isto é, a do esforço constante para ouvir a voz do mestre, acaba por se deixar vencer e ser-lhe indiferente a aula. Dai nascerá a preguiça.
Outro será o caso do aluno muito elogiado. A criança muito elogiada, além de adquirir muitos defeitos no caráter, como haveremos de ver, vai pouco a pouco se tornando preguiçosa por presunção. Vai-se julgando muito inteligente e vaidosa e ja não precisa mais, por isto, estudar as lições que lhe são confiadas.
Não queremos chehar ao ponto, entretanto, de dizer que devemos silenciar diante de um bom trabalho do aluno ou - o que é pior - detestá - lo, advertindo em voz alta:"Você deve desistir de fazer isto. Isto será horrivelmente malfeito!" São essas expressões que, evidentemente, machucam a alma da criança, a qual sentindo-se sem estímulos, mergulha na indiferença e... na preguiça.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

CRIANÇAS PREGUIÇOSAS



Walkiria Assunção
Segundo G.P. da Silva, uma criança sadia é uma criança que salta, brinca, pula. A criança que goza saúde é instintivamente deslumbrada pela vida. A vida para ela é constante e perene procura de prazer, na qual a atividade é a prova mais eloquente de que a existência neste mundo deve ser vivida, antes de tudo, com alegria e satisfação. Uma criança preguiçosa deve, portanto, merecer todas as atenções dos pais e educadores,.


Há, porém que distinguir a criança quieta da criança preguiçosa,como também a criança ativa da criança travessa. O exagero desses estados é que traduz a anormalidade. A travessura demasiada ja não é mais um estado de pura atividade infantil. A quietude absoluta não é preguiça.

A preguiça também, por sua vez, não se caracteriza apenas por essa atitude passiva, ou como diz o dicionário:"por esse vício que consiste na aversão ao trabalho, ao estudo, à vida ativa..." Ao contrário. A preguiça nem sempre é um vício. Não raeas vezes, é um meio de que dispõe o inconsciente para compensar as constantes solicitações dos pais e dos professores.

Em geral toda criança quer brincar. O ideal da infância é mesmo entregar-se inteiramente a esse gênero de distração, particularmente seu, que consiste na procura exclusiva de prazer, para rejeitar por completo a realidade. Nós, os adultos, também vivemos por causa desse mesmo prazer que a vida oferece; mas conhecemos essa realidade e aceitamos( não há outro remédio) a realidade. Em todo homerm há um apicurista, disfarçado ou não. Pois bem. Em relação à criança so aos poucos essa realidade vai sendo percebida, vai sendo compreendida.

Quando, portanto, tiramos os nossos guris do mundo que a fantasia criou, para solicitar deles que nos auxiliem na construção do nosso - há uma grande revolta na alma infantil, e quase sempre essa revolta se manifesta por uma espécie de greve pacífica, através da preguiça... São comuns os casos - principalmente nos lares pobres - em que as crianças tomam os lugares dos empregados no serviço doméstico. Existem inúmeros meninos e meninas que, aos dez anos e às vezes aos sete ou oito anos de idade, ja são exímos cozinheiros de forno e fogão. Eis ai uma das muitas vantagens da luta pela vida. Mas a criança não gostam e, muito menos, apreciam essas vantagens. Talvez tenham razão. E tanto parece ser isto verdade, que elas reagen. Ou, por outra: muitas reagem, tornando-se... preguiçosas. Levam, então, um tempo enorme nos misteres que lhe são confiados, provocando o mau humor dos adultos até à irritação.

Outra faceta curiosa da preguiça infantil é a que se observa nas crianças perseguidas em casa, e depois no colégio pelos professores. Denominamos perseguidas às que a proposito de tudo(ou nada) são continuadamente alvo de reprimendas, de implicancias, de antipatias, de repulsa por parte do adulto. Tais crianças vigam-se dessas situações, aceitando a escola, não como um meio de estudo, mas porque vêem nessa válvula de escapamento um derivativo para os seus sofrimentos. Tornam-se, desse modo, gazeteiras. Não vão quase nunca às aulas. Nada lhes interessa mais que sair de casa. É a forma da opição e do negativismo. Perseguidas em casa, passam, depois, a ser perseguidas pelos professores, embora sob um aspecto diferente. Faltando às aulas, nunca sabendo as lições, são esses alunos frequentemente chamados à atenção, postos de castigos, desclassificados nas provas e - o que é pior - olhados por todos como incorrigível preguiçosos. A preguiça, no entanto, não é ai mais que uma forma de defesa, não é mais que uma reação inconsciente às imposições injustas dos adultos.

É necessário, portanto, não nos queixarmos de nossos filhos preguiçosos, quando soubermos que nós mesmo - nós´unicamente - somos os responsáveis pelo estado lamentável e preguiçoso deles.

A criança nunca deve ser obrigada a fazer alguma coisa. A criança coagida, forçada, impelida a fazer isso ou aquilo, reage de maneira sempre prejudicial à própria personalidade. É preciso conquistar primeiro, a sua simpatia, conseguir que ela va pouco a pouco gostando da tarefa a que está sujeita. É por meios suasórios, mas convincentes, que devemos esclarecê-las disto ou daquilo. Nunca por meios violentos ou antipáticos à sua maneira de ver ou de sentir as coisas.

A preguiça pode ser um vício, não resta duvida, pode ser o fruto exclusivo da ociosidade, principalmente quando ela é observada em indivíduos bem bafejados pela vida. Mas nem mesmo nas crianças a preguiça pode ter essa raiz psicológica.